terça-feira, 27 de abril de 2010

A pequena princesa

Quando se é criança o mundo parece tão infinito. São descobertas, despreocupações, irresponsabilidades descompromissadas, a culpa nunca é nossa, é sempre da infância.
Até que crescermos. Mas, quando sabemos que crescemos? E por que se deve crescer, mesmo?
Por que abandonar nossa criança, deixa-la na creche, se foi ela quem nos fez crescer?
Não gostaria de despedir-me da pequena talita.
Mas têm coisas na vida que, infelizmente, não admitem que carreguemos no colo nossa infância.
Coisas que nos tornam mais um em meio a tantos. Trabalho, chefes, regras socioculturais, nosso querido tempo.
Abandonamos o que há de mais bonito na vida, a imaginação infantil e o mundo por ela criado.
Quem nunca, ainda que sozinho, quando criança tornou objetos, como garrafinhas vazias, estojos, produtos descartáveis, em seres vivos, em morcegos, macacos, golfinhos, carrinhos?! Meus chicletes viravam gente.

Quando pequenos, temos o poder de dar vida àquilo que está morto. Temos o poder de tornar o sem graça naquilo de mais terno e prazeroso. Não conheciamos o que os adultos chamam de "stress". Conseguíamos enxergar, com os mais sinceros olhares, o verdeiro brilho das estrelas. Sem nuvens, sem neblina. Sem pressa, sem preocupações.


Não gostaria que minha pequena princesa me abandonasse jamais, pois ela me nutre e me ilumina quando me vejo perdida no meu amadurecimento...

2 comentários:

  1. Hoje de manhã li uma passagem do livro Inés da Minha Alma, da Isabel Allende, que me lembrou desse seu texto. Você aos 20 está com nostalgia da criança, a princesinha. A autora, através de sua personagem de 70 anos, passa a nostalgia da criança, da jovem e da mulher madura. Diz assim: "Tenho pelo menos setenta anos, como disse, e bem vividos, mas minha alma e meu coração,presos ainda nos resquícios da juventude, se perguntam que diabos aconteceu ao corpo. Ao me olhar no espelho de prata,.., não reconheço essa avó coroada de cabelos brancos que me olha de volta. Quem é essa que zomba da verdadeira Inés? Examino-a de perto com a esperança de encontrar no fundo do espelho a menina com tranças e joelhos sujos que uma vez fui, a jovem que escapava aos pomares para fazer amor às escondidas, a mulher madura e apaixonada...Estão ali, encobertas, tenho certeza, mas não consigo vislumbrá-las." Todos caminhamos com essa saudade do que passou.

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  2. Tali, gostei muito desse seu texto, muito mesmo. É tão bom pensar sobre a infância...e é melhor ainda fazer isso com a ajuda de um texto tão sereno,gostoso,tocante. beijos :)

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