sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Hospedeira

Felicidade, um pedaço, um momento, uma peça, uma parte.
Nunca inteira, nunca plena, nunca toda, nunca eterna.

Essa é a graça.
Ser passageira e temporal. Lenta ou apressada, mas efêmera.

Sem ficar por muito tempo, não é daquelas hospedes do tipo inconvenientes.

Ela chega, bate na porta, dá um oi e um abraço.
Senta, toma um café, e logo se vai. Sem demorar,
se despede curta e fria. Estranho vê-la da janela, indo embora.
Quando irá voltar?

Nunca se sabe.
Mas é sempre bom estar preparado para essa visita.
Geralmente, ela chega de mansinho, de surpresa, sorrateira.

Daquela maneira que você fica sem graça, sem jeito, sem tom,
mas seu sorriso se abre, e você nem sabe o porquê.
Você vai fazer de tudo pra manter essa visita o mais tempo possível
dentro da sua casa. Mas ela não se tarda. Ela segue o vento, leve,
sem rumo, retirante, desapegada.

Bate o vento e lá vai ela.

Mas que graça teria se ficasse? O que fica, o que permanece, cansa.
O que continua vira rotina. E da rotina quero distância. Felicidade nenhuma
merece virar rotina, ela é boa demais pra virar um hábito.

Por isso, fico calma. Abraço o silêncio - quando preciso -, escuto a tristeza quando
ela quer falar, e deixo a porta sempre aberta para quando a minha hóspede favorita resolver
aparecer. Até por que, ela sempre volta... a felicidade sempre volta.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Arma de fogo

Existem pessoas que machucam as outras sem terem a intenção. Para estas, um perdão sincero. Quem perdoa, só tem a ganhar. É menos rancor, menos dor, menos gastrite.

Mas existem outras que machucam para ferir, que se armam com as piores palavras, as mais cruéis e indomáveis. À estas, eu desejo apenas que encontrem, um dia, a paz interna, a felicidade e, sobretudo, o amadurecimento. Por que se são assim, destas que sentem prazer em ferir, em gritar espinhos, com toda a certeza do mundo eu digo: são infelizes, desconhecem o carinho e o afeto.

Não guardo rancor, não desejo o mal. Só espero que elas se encontrem.
Afinal, existem palavras de fogo. E aqueles que as pronunciam, são também criminosos.

Agradeço a vida por ter olhado por mim, e ter me afastado desse tipo de gente.
Claro, que, às vezes, ainda me surpreendo em querer reatar o contato. Ingenuidades
à parte, é que tenho esperança nas pessoas. Tenho fé que o que há de bom em cada um
possa florescer, um dia.

sábado, 25 de agosto de 2012

Nova fórmula: Autocontrole.

Às vezes a gente se engana. Sobre alguém, sobre algo, sobre tudo.
É normal se enganar, sabe. Mais do que parece, mais do que imaginamos, mais do que queríamos.
O nosso primeiro tombo que o diga. Ninguém imaginou que fosse tropeçar, simplesmente se deixou levar, e caiu, sem que realmente quisesse. As ilusões nos atraem para o tropeço, as falsas expectativas nos conduzem ao engano trapaceiro, e é assim que caminham nossas vidas. Mas o melhor de tudo é que precisamos cair, precisamos conhecer bem o chão para poder, depois, nos levantar, saber como é se reerguer, saber em que e em quem nos apoiar. Quando o tombo chega, as pessoas mostram quem realmente são. E as surpresas podem ser boas. Essa é a melhor parte. Quando você está lá embaixo, encolhido, sem força, ainda frágil, machucado, surgem umas luzes, umas formas, umas pessoas que você definitivamente não esperava que aparecessem. E lhe estendem uma mão, duas, três... E quando você vê já está em pé, com algumas feridas, mas já se despedindo da UTI emocional. E, de repente, você vê tudo com outros olhos. Começa a avaliar seu tombo, e reavaliar as situações que te levaram à queda. Aquilo que o fez cair não era tudo o que você imaginava, de alguma maneira lhe frustrou, rompeu com as suas expectativas, e o pior, estava longe de ser o que você imaginava. E, de uma hora para a outra, você começa a agradecer por ter caído, escorregado. Por ter se entregado a dor, por ter se permitido sofrer. Afinal, só entende o que é felicidade quem já conheceu a tristeza, nua e crua. Evitar o sofrimento é adiar o tombo, é enganar a si mesmo achando que sofrer não ajuda a superar, ou a melhorar. E por experiência própria eu digo, só supera quem se permite cair, quem se entrega à queda. Mas da mesma forma que é importante desmoronar, sentir todos os sentimentos ruins depois de um término, de uma perda, de uma saudade sem solução, é essencial sair do buraco, e querer com todas as forças sair dele. Afinal, nós somos donos dos nossos próprios sentidos e sentimentos. Temos que aprender a dominar e a controlar todos os sentimentos que teimam em extrapolar dentro de nós, a passar dos limites. Só assim conseguimos, pelo menos, adestrar nossa dor, e afastá-la pouco a pouco.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Cuidado com a lombada

O problema surge quando sua marcha à ré começa a falhar.
Quando seu carro da vida começa a apresentar defeitinhos, não de fabricação,
mas de uso mesmo. Infelizmente, já não existem mecânicos aptos a consertar tais probleminhas - o tempo matara todos.

Neste momento do breque desajeitado é que você se dá conta
de que, agora, suas decisões passam a definir toda a sua vida futura.
A impossibilidade de dar ré amedronta e encurrala. Por ali, por aqui... Por lá,
bem mais pra lá?

A necessidade quase que vital de escolher por quais trilhos seguir,
por quais caminhos passar, e as consequências das próprias escolhas espantam.

E é exatamente contra o medo que devemos seguir. Pelo caminho a ele oposto.
E digo mais. Ele é o nosso freio mecânico, acionado em todas as horas de risco.
No entanto, quem muita freia, pouco se acidenta. E nem sempre uma batida significa morte.
Pelo contrário, muitas ensinam a viver. Muitas delas cicatrizam o corpo das pessoas.
São as cicatrizes professoras, que lecionam experiência.

Por estas e outras que optei, na minha vida, por usar menos os freios.
Afinal, a durabilidade deles é curta, costuma durar uma infância, e se estende,em casos raros,
até a adolescência. Mas quando adultos, ou quase, começamos a nos dar conta de que ele falha - e tende a piorar.
E, por isso, desencanemos dos freios, pode ser? Não que eu precise correr na velocidade máxima,
mas não quero mais hesitar, não quero mais andar pra trás, não mesmo.

E o próximo passo será seguir sem temer os caminhos, os destinos, as consequências e muito
menos a falha mecânica da minha vida, afinal, não fujo mais das cicatrizes.